Vilhena,

Mulher Rural: 'Somos mulheres e temos que nos unir', diz produtora de soja em RO
Antonielly Rottoli tem 35 anos e é formada em direito. Mas é em uma lavoura de soja, em Alto Paraíso, que ela trabalha para produzir alimentos.

Por G1/RO
Publicado 24/10/2019
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Foto: Antonielly Rottoli/Arquivo pessoal

Natural de Amambai (MS) e bacharel em direito, Antonielly Rottoli, de 35 anos, assumiu a responsabilidade no campo. O marido, Edis Sinopolis, é agropecuarista na região de Alto Paraíso, que fica a 181 quilômetros de Porto Velho.

A história de Antonielly com o agro começou ainda em Mato Grosso do Sul. Ela lembra que estar à frente de uma lavoura. Nem de longe era uma pretensão dela. "Nunca imaginei, nem nos meus sonhos mais remotos, estar no mundo do agro. Caí de paraquedas no agronegócio quando me casei em 2006".

A produtora afirma que no início eram poucas vezes que ia à fazenda da família, mas que foi o bastante para começar a se envolver no agro. "Ia para fazenda nos finais de semanas. Lá, fazia marmita, levava o almoço na roça, levava o café da manhã, café da tarde e janta. Aos poucos fui me interessando pela administração da fazenda e gerindo as contas, arrumando o escritório", relembra.

Em 2013 veio a mudança para Rondônia. Momento que considera um divisor de águas nos negócios da família. "Nosso negócio tomou proporção maior e as dificuldades também aumentaram".

A lavoura de Antonielly, hoje, tem a extensão de 3,5 mil hectares. A produção gira em torno de 220 mil sacas de soja por safra. Com volume de produção e empresa estruturada, a agricultora comanda cerca de 40 funcionários diretamente, mas ela complementa que "em época da safra esse número dobra".

Antonielly conta ainda que a soja que cultiva em Rondônia é tipo exportação. "Comercializamos diretamente com grandes empresas que atuam no estado. Qual o mercado que o nosso produto atinge eu não tenho conhecimento, mas sei que tudo vai para fora do país".

Na economia, o agronegócio envolve uma cadeia de atividades que inclui a própria produção agrícola, que é o cultivo de culturas como soja, milho, algodão, pecuária e outros.

A demanda por adubos e fertilizantes, o desenvolvimento de maquinários agrícolas, a industrialização de produtos do campo como óleos, café solúvel, lácteos, além do desenvolvimento de tecnologias para dinamizar todas essas atividades, também fazem parte do universo que engloba o agro.

Rotação de cultura
A Soja é o principal produto cultivado por Antoniely. A safra principal vai do final de setembro até a colheita em janeiro do ano seguinte. A tecnologia permite a introdução da segunda safra logo em seguida (quando vai colhendo os grãos e são plantados outros).

A rotação de culturas também é uma técnica usada pelo casal. São intercaladas as lavouras de milho, milheto para cobertura, o arroz, além de plantar braquiária para fazer a integração lavoura e pecuária.

"Esse período da 'safrinha' se dá entre janeiro a junho de todo ano, de junho a setembro preparamos o solo, jogamos calcário, incorporamos o mesmo, nivelamos, fazemos todo o preparo do solo novamente para a próxima safra", pontua.

Rondônia é o terceiro maior produtor de soja da região Norte com uma área de mais de 300 mil hectares de área plantada, segunda a Conab. A produção do estado é exportada principalmente para países asiáticos e africanos.

Conectada
O trabalho que Antoniely realiza vai além do campo. Ela conta que é preciso estar conectada em tudo o que envolve a soja para o resultado positivo no campo. "Sempre acompanhamos a Bolsa de Chicago e alguns sites para saber a melhor hora de plantar e também termos noção da hora de comercializar o nosso produto".

A produtora, que cita os Estados Unidos como potência no cultivo de soja, pontua caraterísticas que fizeram do país, o maior produtor mundial do grão. Por ser commodities, produtos que funcionam como matéria-prima, produzidos em escala e que podem ser estocados sem perda de qualidade, como petróleo, suco de laranja congelado, boi gordo, café, soja e ouro, a relação com o comércio exterior interfere diretamente no dia a dia dos sojicultores.

"Os USA que sempre estiveram a frente da nossa produção. Viemos batendo na trave no tocante a produção de soja, estando sempre atrás dos norte-americanos. Claro que o clima e a produção ainda são fatores fundamentais à concretização dessa estimativa de ser o maior produtor de soja do mundo, mas se realmente isso se concretizar a soja se juntará a outros produtos como o café, suco de laranja, a carne de boi, entre outros, produtos estes que o Brasil já lidera na produção. Já somos o maior exportador de soja do mundo graças aos chineses que consomem muito", explica.

Vencendo o preconceito
Antonielly lembra a primeira vez que teve que enfrentar o preconceito por estar à frente dos negócios da família. Durante uma abertura de crédito em uma loja de produtos agropecuários em Ariquemes (RO), a agricultora se deparou com o despreparo da atendente, que pediu para chamar o gerente, quando a produtora falou que a assinatura do cheque era dela mesma.

"Sofri e sofro muito preconceito. O que mais me entristece é que era uma mulher que havia me atendido, as vezes as mulheres têm preconceito com outras", lamenta.
Antonielly acredita que a mudança de conceito, de que as mulheres estão cada vez mais atuantes nos negócios agropecuários, possa mudar essa realidade ainda machista.

Sororidade
Motivada a continuar, Antonielly ressalta que desistir não é algo que faz parte da personalidade dela. "Eu sou movida a bastante desafios. Acho que isso faz parte da própria mulher. Nesse mundo do agro nós somos desafiadas a todo momento, desde a hora em que estamos dentro do escritório até a hora em que estamos no campo".

A produtora destaca que a união entre as mulheres é a força para continuar ganhado espaço no agro. "Somos mulheres e temos que nos unir uma dando força para a outra. Todavia nem tudo o que vivemos é um mar de rosas, mas eu acho que o diferencial para se ter sucesso na área é fazer tudo com amor, não é o simples fato de lucrar, é o fato de estar contribuindo para alimentar pessoas", opina.

Com o trabalho que tem realizado, Antonielly pontua os resultados que tem visto da região onde mora. "Fico muito orgulhosa por gerar emprego na minha região. Conseguimos transitar facilmente entre o campo e a cidade. Temos a facilidade de conciliar a nossa carreira profissional com a nossa família, filhos e outros afazeres e assim com nossos esforços estamos vencendo todo e qualquer tipo de preconceito. Rondônia é o lugar perfeito para que nós mulheres façamos histórias, assim como já fazem em outros setores", finaliza.


Sororidade é a união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum. A origem da palavra está no latim sóror, que significa "irmãs".

Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) foi criada em 16 de outubro de 1945. A FAO atua em todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, com o intuito de igualdade para negociar acordos, debater políticas e impulsionar iniciativas estratégicas.

A organização trabalha no combate à fome e à pobreza, promove o desenvolvimento agrícola, a melhoria da nutrição, a busca da segurança alimentar e o acesso de todas as pessoas, em todos os momentos, aos alimentos necessários para uma vida ativa e saudável.

Reforça a agricultura e o desenvolvimento sustentável, como estratégia a longo prazo para aumentar a produção e o acesso de todos aos alimentos, ao mesmo tempo em que preserva os recursos naturais.

Desde a fundação, a FAO tem como objetivo dar, cada vez mais, atenção ao desenvolvimento das áreas rurais, onde vivem 70% das populações de baixa renda, e que ainda passam fome.

Foto: Antonielly Rottoli/Arquivo pessoal
Foto: Antonielly Rottoli/Arquivo pessoal

Fonte: G1/RO